À procura da nuvem perfeita, serviu como mote para reencontrar elementos iconográficos espalhados aqui, ali, acolá. São elementos que entram e saem da minha vida, consoante o estado de espírito, num determinado espaço físico, e ou, temporal. A nuvem perfeita, está nas suas imperfeições.
António Pascal - janeiro de 2021
“Ele chegou e ninguém lhe ligou importância. O mundo continuou atarefado como sempre, embora houvesse alguns seres mais atentos. Enquanto o problema e a preocupação se começavam a espalhar por todo o lado, as recomendações de distância social e de higienização faziam cada vez mais sentido. Cientes das fragilidades do nosso modo de vida, refugiámo-nos como eremitas, acabando com isso por fazer ampliar pequenas irritações quotidianas e aumentar o nervosismo e a desconfiança no outro. Atirados para esta solução provisória sem rede, mas com wi-fi, vimos multiplicar as solicitações enquanto os problemas se agigantavam. Às boas intenções que acalentávamos no início sobreveio uma realidade espinhosa. Depressa vieram os pesadelos. Apesar das notícias de experiências transformadoras de outros foi difícil reorganizarmos o quotidiano e comunicar só à distância. Foi com a ajuda de castelos feitos de histórias ou de cartas de jogar, e com a continuação de exercício para corpo e mente que conseguimos superar as dificuldades. Enquanto desejávamos ardentemente um destino diferente, aventurámo-nos a fazer coisas incomuns. Entre o peso da responsabilidade e a vontade de descoberta fomos levados a nos conhecer melhor a nós próprios. No fim, apesar de forçado a criar um oceano entre “ o mim e os outros”, o isolamento propiciou a maturação e concretização de ideias, e a abundância de inspiração. O segredo está no desassossego como catalisador de atividade, e assim evitar o desconforto de se sentir cativo. Deste percurso afortunado resultou esta viagem singular”.
Filipa Marcelino - março de 2021
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